Passos da História



 FATOS HISTÓRICOS DE



UM PEQUENO LUGAREJO . . .










... que
Transformaram
Mata-virgem em vila . . .
Vila em cidade . . .






. . . começam a contar
a sua história
quando . . .




    Tipo de embarcação de três mastros,
     que fazia o transporte das pessoas.



Certo dia surge um Príncipe que resolveu aventurar-se pelos mares e conseguiu chegar à baia da Guanabara, lá no litoral do Rio de Janeiro, com sua embarcação. Esse "Príncipe aventureiro" veio de outro continente, uma porção de terra chamada França e seu nome era François Ferdinand Phillipe Louis Marie, "Príncipe de Joinville".


   
     



O Brasil era uma Monarquia e o Imperador tinha o poder sobre as pessoas que aqui viviam e sobre as terras que ocupavam. O Imperador D. Pedro I, primeiro Imperador do Brasil, tinha duas filhas solteiras, que despertavam o interesse de Príncipes vindos de outros Países. Era costume da família, receber os visitantes e convidados com uma grande festa. Essa comemoração era uma boa oportunidade para conhecer pessoas influentes e Princesas dispostas a casar. 




Foi durante uma dessas festas, que o “Príncipe de Joinville” viu pela primeira vez a jovem Princesa Francisca Carolina. Ficou tão encantado pela bela “Chica”, que dançou quase toda à noite com ela. Quando seguiu viagem, levou em seu coração a imagem inesquecível da Princesa Dona Francisca.


Como em “Fantasia” toda Princesa tem direito ao seu “Príncipe encantado”, já parecia estar escrito nas estrelas, que algum dia a Princesa Dona Francisca também encontraria o seu.




     Os sentimentos que a Princesa despertou no Príncipe durante este primeiro encontro, fizeram com que ele voltasse mais vezes para o Brasil.
Por serem pessoas consideradas de grande importância, as cerimônias do casamento e os sentimentos dos Príncipes enamorados não eram suficientes. Existiam alguns acordos que precisavam ser discutidos e aceitos pelas duas Famílias Reais. Um deles era a assinatura de um papel, que garantiria o recebimento de um dote de terras, um presente que a noiva recebe, no momento em que vai se casar. Essas terras que os Príncipes receberiam, poderiam fazer parte das melhores faixas encontradas na Província de Santa Catarina, no sul do Brasil, desde que não estivessem ocupadas. 
Em 22 de abril de 1843 realizou-se o casamento da “Princesa Dona Francisca” e do “Príncipe de Joinville”. Depois do casamento, os dois foram morar em uma terra distante chamada Europa, de onde nunca mais voltaram.


Mapa Mundi - Globo


Louis François Léonce Aubé foi enviado especialmente pelo “Príncipe de Joinville” para escolher e tomar posse das terras. Depois de percorrer a região, escolheu a margem direita do rio. Elas ficavam perto do litoral e dos meios de comunicação, eram ricas em madeira e estavam longe dos ataques dos índios que viviam na mata fechada.




Depois de definir a localização das terras, o engenheiro Jerônimo Francisco Coelho foi chamado para marcar os limites da região. Ele andou por mangues, banhados, matas, plantações, atravessou rios e córregos, subiu e desceu morros, abriu picadas, até medir e demarcar todas as terras desde o rio Pirabeiraba até o rio Itapocu. Obrigado a desviar das propriedades de antigos moradores da região, fincou 37 marcos em ziguezague até chegar ao rio Itapocu. 


Essas terras eram chamadas de sesmarias, elas eram emprestadas para pessoas que tinham o desejo de cultivá-la.




Mapa da Colônia Dona Francisca - 1853


A ideia de transformar as terras dos Príncipes em uma Colônia, surgiu no momento em que o “Príncipe de Joinville” passava por dificuldades financeiras. 


Com a venda das terras, ele resolveria o seu problema de dinheiro e a região passaria a ser utilizada, transformando terras devolutas, que até aquele momento estavam desocupadas, em terras produtivas. Com isso, as Companhias de Colonização, formadas por grupos de pessoas com grande influência e algum dinheiro, interessadas em explorar regiões distantes e desconhecidas, empolgaram-se, decidindo fazer muita propaganda para gerar grandes negócios, em busca de muito lucro. Essas empresas possuíam vários veleiros capazes de atravessar os oceanos, transportando pessoas, objetos, alimentos, tecidos e muitas outras coisas. 



1851 - Chegada dos primeiros imigrantes 
à Baia da Babitonga.



Como presidente da Sociedade Colonizadora de Hamburgo, o senhor Christian Mathias Schroeder fez um acordo com os Príncipes. Nesse acordo ficou decidido que os “Príncipes de Joinville” dariam uma parte das terras do dote para o Senador. Em troca Schroeder faria propaganda do lugar para trazer pessoas interessadas em morar e trabalhar no Brasil. Acordo feito e assinado, a Sociedade Colonizadora fez a propaganda e vendeu as passagens aos emigrantes interessados em vir para o Brasil, para trabalhar a terra.





Relatório da Sociedade Colonizadora


Depois da assinatura desse acordo, foram necessários dois anos até que os primeiros emigrantes saíssem de Hamburgo, lá na Alemanha e viessem ocupar a terra que tinham comprado.



  Mapa Mundi - Plano


Navegando pelo oceano com uma barca chamada Colon, chegaram à baia de São Francisco. 






Mas eles ainda não tinham chegado às terras dos Príncipes. Para chegar até lá, era preciso sair da barca Colon e navegar pelo rio Cachoeira em pequenas canoas, para então desembarcar perto de um outro rio chamado Mathias. 




    Essas pequenas canoas cheias de pessoas e de bagagens, atravessaram a baia da Babitonga e a lagoa do Saguaçú, subindo pelas águas então cristalinas do rio Cachoeira, até que por volta de 9 de março de 1851, chegaram às terras que adquiriram dos Príncipes. Nesse tempo que navegavam pelo rio Cachoeira, os imigrantes puderam observar os diversos tipos de verde das árvores, as mais variadas espécies de trepadeiras e flores, arbustos de mangue e milhares de coqueiros e palmeiras, uma paisagem predominantemente verde, que chamava a atenção de todos os imigrantes.


Primeira vista de Joinville -
Desenho de 1851.


A Colônia chamava-se Dona Francisca, em homenagem à Princesa, e o primeiro lugarejo ali criado recebeu o nome de Joinville, em homenagem ao Príncipe. 


As casas que tinham sido construídas para receber os novos donos das terras, chamadas casas de recepção, ficaram pequenas e apertadas. No início da colonização, as construções eram bem simples, feitas de madeira nativa, troncos de palmitos amarrados com cipó e cobertas com folhas de palmeira, material facilmente encontrado na região. 




As estruturas de madeira que formavam as paredes eram preenchidas com barro e o chão das casas era de barro batido, formando o que hoje toda a população conhece como casas enxaimel. 






 Depois que cada colono tinha medido e cercado o terreno comprado, demarcando o lote que tinha comprado da Sociedade Colonizadora, cada um começou a construir sua própria casa.

Quando os imigrantes perceberam que os troncos de palmito e as folhas de sapé usados nas construções não seriam suficientes para todas as obras, alguns tiveram a ideia de fazer olarias para produzir telhas e tijolos, substituindo o sapé e o pau-a-pique usados nas obras.


A partir do momento em que havia produção suficiente nas olarias, as casas construídas começaram a ficar cada vez mais parecidas com aquelas que se faziam na Europa. A armação passou a ser feita de vigas e colunas, preenchidas com tijolos e coberta com telhas produzidos nas olarias. Com o tempo, o cultivo da terra também recebeu maior atenção, ela foi preparada pelos colonos para o plantio de: batata doce, aipim,  arroz,  milho e  cana-de-açúcar. Tudo isso pôde ser feito com a ajuda de: enxadas, foices, ancinhos, pás e arados, além de outros instrumentos próprios para jardim, que tinham vindo na bagagem dos imigrantes ou que, mais tarde, eram importados, assim como tantos outros utensílios domésticos, tecidos, roupas e até sementes.
       


      Os imigrantes também começaram a criar animais. Alguns faziam companhia aos moradores e outros ajudavam na lavoura e também podiam servir de alimento. Todas essas mudanças alcançadas pela união e pelo suor empregados por imigrantes alemães, suíços e de algumas outras nacionalidades, fizeram com que a região, rodeada pela mata-virgem e por coqueiros e palmeiras, se transformasse em um pequeno núcleo agrícola, onde todos estavam dispostos a ajudar e defender uns aos outros, esforçando-se para deixá-lo parecido com os lugares que cada um dos imigrantes tinha deixado para trás.

    Em setembro de 1851, chegou mais uma outra barca, que trouxe novos imigrantes. O nome dessa barca era “Gloriosa” e as pessoas que vieram com ela à Colônia tinham um pouco mais de dinheiro e uma profissão. Com a ajuda desses novos imigrantes, a pequena Colônia começou a crescer. Vendas, lojas e outros estabelecimentos foram surgindo, para atender às necessidades dos moradores. O número de casas construídas foi aumentando e as picadas foram calçadas com os troncos dos pés de palmito e dos coqueiros, diminuindo a lama que se formava nos dias de chuva. Por causa dessas transformações, em 1858, o lugar passou a ser chamado de Vila.

    Essa vila começou a mostrar-se brilhante e grandiosa. As casas antes tão simples, passaram a revelar a vida e a alegria que as habitava, exibindo delicadas cortinas que se debruçavam sobre os bancos das janelas e iam ao encontro da luz e da algazarra de inúmeras crianças, que brincavam despreocupadas pelas ruas da vila, enquanto suas mães se ocupavam com as coisas da casa e planejavam deliciosos piqueniques.





Os jardins ricamente floridos e bem cultivados faziam questão de exibir sua fertilidade, encantando as pessoas que por eles passavam e fazendo com que o mato alto e escuro trocasse de lugar com plantações de arroz, milho, cana, árvores frutíferas e flores. Com o passar do tempo, a Colônia recebeu ainda mais casas de moradia, pequenas indústrias e novas estradas.

Os moradores já não dependiam mais tanto de São Francisco para comprar alimentos ou qualquer outra coisa que precisassem. A pequena Joinville já tinha padarias, fábricas de cigarro, fábrica de licor, cervejaria, engenhos de açúcar e de arroz, carpintarias e sapatarias. Com o passar do tempo, já exportavam seus produtos pelo Porto de São Francisco e mandava buscar as matérias primas necessárias para fazer novos produtos.


Foto ilustrativa dos engenhos de arroz e cana de açúcar



Agora, o que os agricultores precisavam, era transportar os seus produtos para grandes centros de comércio, não só para o porto de São Francisco, garantindo o seu próprio abastecimento com a venda ou a troca de mercadorias, por isso tiveram a ideia de construir a Estrada Dona Francisca.


Estrada Dona Francisca


Mas os imigrantes não viviam só de trabalho. Uma pequena roda de amigos podia transformar-se em um minúsculo baile, no qual os pés dos dançarinos não conseguiam ficar parados. Bastava um instrumento e um músico para que as cadeiras fossem abandonadas.


Era durante essas reuniões familiares, que surgia a ideia de criar Sociedades de canto, de ginástica, de teatro, de exposições, de música e de dança. Esses momentos descontraídos eram o palco de criação das apresentações musicais, teatrais e folclóricas, que cada imigrante conhecia de sua terra natal.  Ali também nasciam as exposições e os campeonatos que faziam a população da pequena vila aumentar a sensação de perfeito bem-estar.

Todas as apresentações ensaiadas eram sempre muito animadas e festejadas. Cada morador participava, emprestando objetos, roupas ou qualquer utensílio de sua própria casa, que pudessem ajudar na montagem do cenário, ao mesmo tempo em que vibrava alegremente com o resultado final de cada encenação.


Apresentação de uma peça de teatro


Os visitantes e os viajantes que passavam pela vila, e que tinham oportunidade de assistir a algum desses espetáculos, ficavam encantados, não só com os espetáculos, mas também com as belezas naturais que se exibiam nos lugares mais afastados do centro e que relembravam os recantos deixados para trás. 



Todos esses pequenos passos seguros em direção ao futuro mudaram a aparência da vila, transformando-a, em 1877, numa graciosa cidade, que, com o passar do tempo, já alcançara seus cinquenta anos de idade.





O orgulho e a gratidão daqueles que conseguiram ver seus sonhos transformarem mata-virgem em vila, e vila em cidade, impulsionaram toda a comunidade a preparar uma festa inesquecível para comemorar esses cinqüenta anos.



Foi assim que, durante um dia ensolarado de 1901, nossa cidadezinha muito brasileira, de nome francês e aspecto europeu, acordou cheia de flores e de gente alegre e feliz, que se divertia para comemorar mais uma conquista. 


***

ALÔ, AMIGUINHO !



*             Quer saber mais sobre a “História de Joinville”? - Então leia os livros que ajudaram a escrever essa história:

 - História de Joinville: Crônica da Colônia Dona Francisca, foi escrito por Carlos Ficker, e editado pela primeira vez em 1965. Nele o autor conta em detalhes o que aconteceu por aqui na época.

 - Era uma vez um simples caminho . . .  , foi escrito por Elly Herkenhoff  e editado em 1987. Nele a autora conta outros detalhes sobre nossa cidade, só que de forma mais poética, como se relembrasse os fatos de uma época que deixou saudade. 

- A Colônia Dona Francisca no Sul do Brasil, foi escrito por Theodor Rodowicz e editado 1992. Nele o autor relata as experiências e os acontecimentos pessoalmente vividos na Colônia.

- Álbum do Centenário de Joinville - 1851-1951, foi organizado pela Sociedade dos Amigos de Joinville, e é um resumo de todos os passos que transformaram as terras dos Príncipes naquilo que a nossa cidade se transformou nos dias de hoje.

Os mapas mundi mostrados aqui foram copiados do Atlas Mundial da Enciclopédia Encarta de 2001, vendida pela Microsoft. 


- Acervo Fotográfico do Arquivo Histórico de Joinville. 
- Fotografias de acervos particulares, cedidas por familiares.
-Reproduções de algumas fotografias publicadas no livro: História de Joinville: Crônica da Colônia Dona Francisca, escrito por Carlos Ficker.
- Reproduções de algumas fotografias publicadas no livro: A Colônia Dona Francisca no Sul do Brasil, escrito por Theodor Rodowicz.
A foto da rua do Príncipe, vista do balcão da Direção da Colônia Dona Francisca em 1866, 1: pb.; 17,4 x 22,5 cm, faz parte do acervo da Fundação Biblioteca Nacional (site), Coleção Dona Thereza Christina Maria Bourbon-Duas Sicílias.





***


Agradecimento pela assessoria especial à:
Sueli de Souza Cagneti
Valdir Vegini


Criação, Diagramação, Digitação, 
Produção e  Reprodução Fotográfica
Helena Remina Richlin
(1998)




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