21 de dez. de 2014

Tradução de equivalências linguísticas X marcadores culturais ...


[ ...] produzir um texto significa supor a sua recepção e, por consequência, a sua compreensão, ou seja, presumir que seja possível compartilhá-lo em comunidade [ ... ], mesmo que aspectos subjetivos estejam aí incluídos (particularidades de um dado estabelecimento escolar de um dos países ou singularidades idioletais de um tradutor, [por exemplo]).[ ... ]


Devido à diversidade das instituições de ensino, mesmo em sistemas mais centralizados,a principal função do tradutor não é encontrar um equivalente pleno, que muitas vezes não existe, mas encontrar técnicas para, por um lado, preservar o referente cultural e, ao mesmo tempo, torná-lo compreensível no texto traduzido(cf. Delvizio, 2011 p. 281). Consiste aí uma das dificuldades do trabalho do tradutor juramentado [neste caso específico, mas que não é diferente no trabalho do não-juramentado] (como, por exemplo, na tradução de abreviações, notas e menções, títulos de disciplinas, entidades institucionais, entre outros), que precisa evitar adaptações, pela própria natureza do texto que traduz,diversificando suas estratégias, entre transcrições, empréstimos, modulações,traduções intersemióticas, explicitações e até mesmo implicitações ou omissões(cf. modalidades tradutórias de Aubert, 1998). Por tal motivo, é frequente incluir explicitações ou paráfrases entre parêntesis ou em notas de rodapé precedidas de “N.d.T.” (Nota do Tradutor). [ ... ]
Num estudo sobre históricos escolares acadêmicos alemães e brasileiros, Reichmann (2013)constatou a grande diversidade na nomenclatura deste gênero textual no sistema alemão em oposição ao sistema brasileiro, que usa “histórico escolar” em todo o território nacional. Portanto, na Alemanha há termos concorrentes para denominar este documento escolar, como: Bescheinigung über erbrachte Studien-und Prüfungsleistungen, Notenspiegel, Leistungsübersicht,Leistungsbescheinigung, Leistungsnachweis, Transcript of Records, Datenabschrift,entre outros. Tal diversidade terminológica na Alemanha está estreitamente relacionada ao sistema escolar descentralizado em que cada estado ou instituição denomina o documento da maneira considerada mais conveniente, apesar de haver uma tendência à harmonização pela Reforma de Bolonha do uso de “Transcript of Records” e seus equivalentes em outros idiomas. [ ... ]
Desse modo, cabe ao tradutor juramentado fazer com que o estabelecimento escolar brasileiro que vai receber a tradução desse documento escolar compreenda-o, por um lado, quanto ao gênero e às terminologias e, por outro, a partir das equivalências instauradas pelo profissional das duas línguas, estabeleça um paralelo entre as marcas e os marcadores culturais dos dois países. Para tanto, o tradutor provavelmente incluirá notas de rodapé para explicitar as dissonâncias percebidas (no Brasil, por exemplo, as notas são atribuídas sobre 10 e na França, sobre 20) e se acomodará às singularidades dos discursos de cada gênero(os comentários dos professores franceses, por exemplo, vão do registro coloquial ao poético, passando por citações, provérbios e idiomatismos). [ ...]
Cabe,portanto, ao tradutor público ou juramentado [e a meu ver, também ao tradutor não juramentado] realizar pesquisas aprofundadas não somente sobre os gêneros,abreviações e terminologias em contraste, mas também sobre as especificidades de cada instituição emissora de determinado documento escolar no respectivo sistema de ensino [que no caso do tradutor não juramentado, se aplica a todo e qualquer texto literal, acadêmico, técnico, poético, dentre tantos outros que venha a transpor, linguisticamente, para qualquer que seja o idioma final desejado,em respeito à época e ao autor que o produziu, bem como ao contexto no qual foi produzido. [ ...]
A preocupação do tradutor em atualizar seus conhecimentos e aprimorar as técnicas de tradução é fundamental para que a sua tradução [juramentada ou não] possa exercer a função de veicular as marcas e os marcadores culturais de determinado sistema de ensino, [texto literário, histórico, acadêmico, técnico, poético,dentre tantos outros] de maneira compreensível para o receptor da tradução[seja ela juramentada ou não].

In: REICHMANN,Tinka & ZAVAGLIA, Adriana. A TRADUÇÃO JURAMENTADA DE DOCUMENTOSESCOLARES (PORTUGUÊS, FRANCÊS, ALEMÃO). Disponível em:http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/trad_em_revista.php?strSecao=input5&fas=259.Acesso em: nov. 2014. / http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/trad_em_revista.php?strSecao=input5&fas=259. Acesso em: dez. 2015.


© Helena Remina Richlin

22 de out. de 2014

Os Postais e as Decifrações que eles possibilitam!!!

Um postal com imagem de Bremen, em que se vê a ponte do Imperador:





Bremen, d. 22/6. 57

Leiber Herr W.

Sie werden auch denken, ich hätte
Sie in Europa ganz vergessen. Leider hatte ich keine Adr. von Ihnen gefragt u, sende dieses Kärtchen nun an die unsere dort. Mein Mann soll Ihnen wohl all' meine Grüsse immer schön bestellt haben. Halten Sie den Daumen, dass ich wieder ohne Wellense.... dort lande.
Tausend Grüsse!

F.... F....


TRADUÇÃO:

Bremen, 22-6-57

Caro Sr. W.

O Sr. deve pensar que eu lhe esqueci totalmente enquanto estava na Europa. Infelizmente eu esqueci de perguntar o seu endereço e por isso envio este cartãozinho para o nosso. Meu marido deve ter lhe repassado todas as cordiais saudações. Cruze os dedos para que eu aterrize por aí novamente sem ...

Mil saudações!

F... F....


***


Outro postal com a imagem de Heidelberg (Alemanha):





Heidelberg, 7. 6. 53

Caro amigo R....., estamos fazendo boa viagem. Com chuva, frio, sol e com Volkswagen. Aqui em Heidelberg me lembro de você, e um conselho de amigo: não deixes de vir a esta cidade, porque aqui encontrarás o que procuras. Apesar dos 4.500 Universitários há muitas que te esperam.
Recomendações a seus paes e um abraço do R..... e L.....




***



Postal com imagem da Rua do Príncipe:



 Joinville, 17/10/36

Lieber W. .....!

Beginne heute Dir die gewünschten Aussichten von hier zu schicken. Kaufe mir dort 3 Postkarten von der neuen Emission in voraus mit Abbildung brasil. Marcken, beschreibe eine und schicke die anderen im Convert; es werden nur 10m(?) Stück ausgegeben u. dürfen dieselben bald vergriffen sein.

Herzl. Gruss V....



TRADUÇÃO:

Joinville, 17/10/36

Querido W. ....!

Começo hoje a te enviar as desejadas imagens daqui. Compre aí para mim 3 postais da nova edição, desde que tenham imagens de marcas brasileiras. Descreva uma e envie as demais dentro do envelope; serão editadas somente umas 10 mil(?) unidades e certamente logo estarão esgotadas.

Cordiais saudações V....





***



Imagem de Joinville - Estação de vapores e rua Bou[s]singault*:





 Joinville, d. 20. März 12

Ich erhilte deine Karte und sage Dir meinen Dank für d. Gratulation. Auch Dir übermittle unser aller Glückwunsch zu deine Genesung. Luise, Kinder wie auch ich sind Gesund, was auch von hier uns(?) den deinen erfasst(?). Besten Gruss.
Dein ... O. P.


TRADUÇÃO:

Joinville, 20 de março de [19]12

Recebi teu cartão e agradeço pelas congratulações. A ti também transmito todas as nossas congratulações por tua recuperação. Luise, as crianças, assim como eu estamos bem de saúde, o que também abrange(?) aos teus. Com os melhores cumprimentos.
Teu ... O. P.

*[Nota de Tradução: A antiga Rua Boussingault é a atual Rua 7 de Stembro desde 1912. Esta rua foi aberta por Frederico Brüstlein, que assim a denominou em homenagem ao seu professor, na França, que teve muita influência na sua formação. In: KRISCH, Hilda Anna & SCHULTZ, Margarida. Denominação de Ruas de uma Planta da Antiga Joinville. Joinville: Do Autor, [s.d.]]




***



Imagem do Passeio público - Joinville - Brasil:




18. 7. 05
 Liebe Mama!

Habe eben noch an Emilie geschrieben, sie hat Heimweh kommt vielleicht bald wieder. Bin(?) gesund u. munter u. hoffe an Dir dasselbe. Mit grosse ... (?)
Deine Adele



TRADUÇÃO:

18-7-05

Querida Mamãe!

Acabei de escrever para a Emilia, ela tem saudades e talvez volte logo. Estou(?) com saúde e bem e espero que você também esteja. Com grande .... (?)
Tua Adele



***



Imagem de Campo Alegre:



 Lieber W. ...., wie geht es Dir? Ihr müsst sicher fleissig lernen in der Schule. Wie heisst denn Euer neuer Lehrer? In dem Haus X wohnen wir. Nächsten Monat ziehen wir in Leppers Haus Ο . Hier in Campo Alegre ist es sehr schön, viel schöner, als in S. Bento. Du kannst uns in den Ferien ja mal besuchen, wenn Du lust hast.
Viele Grüsse von Deinen E. ... und Mama



TRADUÇÃO:

Querido W. ...., como vai você? De certo vocês tem muito para estudar na escola. Como se chama o novo professor? Nós moramos na casa X. Mês que vem mudaremos para a casa dos Lepper Ο . Aqui em Campo Alegre é muito bom, muito melhor do que em S. Bento. Podes vir nos visitar nas férias, se tiveres vontade.
Saudações do teu E. ... e de mamãe

[N.T.: Os simbolos XΟ encontrados no texto, se referem a marcações feitas no anverso do cartão, com a finalidade de marcar a localização das casas mencionadas.]



***


Imagem da Rua 9 de Março - Joinville:



Jlle, 15/11/31

Lieber W. ....!

Das avisierte Katalog ist bis heute nicht eingetroffen, ebenso die erbetenen Postkarten mit Abbildung der alten brasil. Marken, esquecestes? Erwarte auch die Esperantsmarken. - Hier ist alles wohlauf, wie geht es Dir?
Viele Grüsse Vati.



TRADUÇÃO:

Jlle, 15/11/31

Querido W. ....!

O anunciado catálogo não chegou até hoje, assim como os cartões postais encomendados, com a imagem das antigas marcas brasileiras, esquecestes? Também estou esperando pelas marcas Esperants(?). - Por aqui está tudo bem, como vai você?
Saudações, papai


Fonte: Os postais aqui publicados fazem parte do acervo familiar.


© Helena Remina Richlin

18 de out. de 2014

Princípios Tradutológicos

Segundo Jirí Levy:

  • Uma tradução tem que reproduzir as palavras do original;
  • Uma tradução tem que reproduzir as ideias do original;
  • Uma tradução deve poder ser lida como uma obra original;
  • Uma tradução deve ser lida como uma tradução;
  • Uma tradução deveria espelhar o estilo do original;
  • Uma tradução deveria mostrar o estilo do tradutor;
  • Uma tradução deveria ser lida como pertencente ao tempo do original;
  • Uma tradução deveria ser lida como pertencente ao tempo do tradutor;
  • Uma tradução pode, frente ao original, acrescentar ou abandonar algo;
  • Uma tradução não deve nunca, frente ao original, acrescentar ou abandonar algo;
  • Uma tradução de versos deveria ser em prosa;
  • Versos deveriam ser traduzidos em versos.


Há ainda estudos que visam discutir uma compreensão do papel exercido pelo(a) tradutor(a), baseados nas seguintes hipóteses:

        
  1.       o(a) tradutor(a) é um(a) escritor(a) dos textos que produz, então, ele(a) tem autoridade para manipulá-lo, para invertê-lo e para recriá-lo, de modo que enriqueça a cultura-alvo e a língua-alvo;

    2.     a autoridade do(a) tradutor(a) está limitada a certos fatores que afetam seu trabalho, suas escolhas e suas decisões, que são: contexto, interpretação e intenção. O(A) tradutor(a) trabalha dentro das linhas (dos limites) que estes fatores criam;

    3.     finalmente, o(a) tradutor(a) torna-se visível ou invisível. Este estado do(a) tradutor(a) depende da quantidade de intervenções criativas que ele(a) opte fazer no texto e isto, por sua vez, depende da influência que elas exercem sobre estes fatores.

De acordo com os princípios de Dolet:


a) o(a) tradutor(a) deve compreender totalmente o sentido e o significado do original produzido pelo(a) autor(a), apesar de ter a liberdade de esclarecer eventuais trechos obscuros.
b) o(a) tradutor(a) deve conhecer perfeitamente, tanto a língua de origem (SL), quanto a língua-alvo (TL);
c) o(a) tradutor(a) deve evitar a tradução palavra-por-palavra;
d) o(a) tradutor(a) deve usar um vocabulário que seja do senso comum;

e) o(a) tradutor(a) deve escolher e ordenar as palavras apropriadamente, de modo a alcançar o tom apropriado.


Dryden
, por sua vez, publicou sua própria categorização:
     
1. Metáfrase: tradução palavra-por-palavra, linha-por-linha, o que corresponde à tradução literal;
2.   Paráfrase: tradução latitudinal, na qual o(a) autor(a) é mantido(a) pelo olhar do(a) tradutor(a), embora suas palavras não sejam seguidas estritamente em seu sentido, o que corresponde à tradução fiel, de acordo com o sentido;

3.      Imitação: abandonando as duas, tanto as palavras, quanto o sentido, o que corresponde à tradução livre de Cowley, ou seja, mais ou menos uma adaptação.


Tytler
 afirma que a paráfrase iria levar o(a) tradutor(a) à perda exagerada na tradução. Sua teoria sustentava que:

a)   o(a) tradutor(a) deveria proporcionar uma transcrição completa (fiel) das ideias da obra original;
b)  o estilo e a forma de escrever deveriam ter as mesmas características do original;

c)   a tradução deveria reproduzir todas as questões apresentadas pelo original.



       Para Schleiermacher o(a) "verdadeiro(a)" tradutor(a) deveria usar uma destas duas estratégias: alienar ou naturalizar.

Já de acordo com a teoria de Nida esta teoria é construída sobre a premissa de que a mensagem do original deve ser traduzida, de modo que a sua recepção seja a mesma propiciada ao receptor que tenha acesso ao original, o que Nida chama de principio de efeito de equivalência.

Enquanto que, de acordo com a argumentação de Derrida, a tradução é uma expansão do texto original e apesar da tradução, o original continua vivo e sobrevivendo.

E para Lawrence Venuti, um(a) tradutor(a) traduz fluentemente, para produzir um texto-alvo (TT) idiomático e legível, o que leva a criar uma ilusão de transparência.


      
       In:  CADERNOS DE TRADUÇÃO / Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Comunicação e Expressão. G.T. Tradução. – n° 3 (1998). Florianópolis: G.T. Tradução,1996. Páginas 91-92. 

      FURLAN, Mauri. Possibilidade(s) de Tradução(ões). Cadernos de Tradução, [S.l.], v. 1, n. 3, p. 89-111, jan. 1998. ISSN 2175-7968. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/5379/4925>. Acesso em:  Out. 2014. doi:http://dx.doi.org/10.5007/5379.


      SULAIBI, Dia. The Translator as Writer: Exploring the Creative Force of Translation. Germany: LAP LAMBERT Academic Publishing. 2012. Disponível em: https://www.academia.edu/26606131/The_Translator_as_Writer.pdf. 
        Acesso em jul. 2016.


© Helena Remina Richlin

Princípios da Tradução


Posições nas Teorias da Tradução


I – a da intraduzibilidade absoluta

 unicidade de cada indivíduo ler, compreender e interpretar o mundo a partir de si e para si;


II – a da traduzibilidade relativa

 possibilidade da tradução, com alguns casos pontuais de exceção;


III – a da traduzibilidade absoluta

 na prática tudo pode ser traduzido e os problemas de tradução existem apenas a nível teórico.

        


         In: Cadernos de tradução / Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Comunicação e Expressão. G.T. Tradução. – n° 3 (1998). Florianópolis: G.T. Tradução,1996. Página 91.
         FURLAN, Mauri. Possibilidade(s) de Tradução(ões). Cadernos de Tradução, [S.l.], v. 1, n. 3, p. 89-111, jan. 1998. ISSN 2175-7968. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/5379/4925>. Acesso em: Out. 2014. doi:http://dx.doi.org/10.5007/5379.


© Helena Remina Richlin

11 de out. de 2014

A QUESTÃO DA FIDELIDADE -




Menard, o tradutor total, aspirava a uma fidelidade total: pretendia reescrever o Quixote exatamente como Miguel de Cervantes o escrevera, repetindo seu contexto histórico e social, suas circunstâncias, suas intenções e motivações.
A impossibilidade do sonho de Menard já nos permitiu reformular o conceito de texto "original". Resta-nos agora, repensar a questão da fidelidade.


Menard não pode ser completamente fiel ao texto de Cervantes, porque esse texto não é um receptáculo de conteúdos estáveis e mantidos sob controle, que podem ser repetidos na íntegra. O texto de Cervantes, como qualquer outro texto, "literário" ou não, somente poderá ser abordado através de uma leitura ou interpretação.


Como Pierre Menad, todo(a) leitor(a) ou tradutor(a) não poderá evitar que seu contato com os textos seja mediado por suas circunstâncias, suas concepções, seu contexto histórico e social. [...] Aquilo que consideramos verdadeiro será irremediavelmente determinado por todos os fatores que constituem nossa história pessoal, social e coletiva. Nesse sentido, é a história que dá à luz a verdade, e não a verdade que serve de modelo para a história. Assim, o Quixote de Menard, embora verbalmente idêntico ao de Cervantes, revela, mais do que o mundo de Cervantes, a própria história de Menard ...



In: ARROJO, Rosemary. OFICINA DE TRADUÇÃO: A Teoria na Prática. 4ª edição. São Paulo: Ática, 2000. p. 37/38.



O Sonho de uma linguagem não-arbitrária ...

Menard concebe o texto como um objeto de contornos perfeitamente determináveis, acreditando, que seja possível reproduzir totalmente, em outra língua, as ideias, o estilo e a naturalidade de um texto original.



Fonte: ARROJO, Rosemary. Oficina de Tradução: A teoria na prática. São Paulo: Ática, 2000.


© Helena Remina Richlin

Conceito de traduzibilidade ...

  ... O conceito de traduzibilidade, da forma como é posto por Benjamin, constitui um conceito atravessado pelo influxo melancólico: ele pressupõe a aceitação de uma distância, de uma separação de um fundo textual reconhecido como anterior, [o que] implica na destruição voluntária desse texto anterior e sua reconstituição, em outro tempo, em outra língua, em outra cultura, enfim em uma situação de alteridade ou outridade radical.
[ ...]
Não por acaso, pois, Benjamin irá ligar a traduzibilidade à questão de definir [ ... ] o que vem a ser esse processo e o produto desse processo denominado tradução. [ ... ] Defenderá a ideia de tradução como um transplante para um terreno "ironicamente" mais definitivo, a partir do qual o original não poderá mais continuar a migrar, sob pena de se transformar em outro: original de original, portanto um não original, uma falsificação.
[ ... ]
        Cada língua se comunica a si mesma; ou melhor, cada língua se comunica a si mesma, em si mesma. Em realidade, ela é o meio de comunicação.


Toury refere que a traduzibilidade é parte integrante do processo de tradução. A traduzibilidade pode ser condicionada perante o que se escolhe como invariante na entidade semiótica, e quando existe mudança ou não de canal durante a transmissão da mensagem, e será mais elevada mediante estas cinco condições:

·    1) A traduzibilidade é alta quando um par de linguagens é do mesmo tipo ou família linguística;
·    2) A traduzibilidade é alta quando existiu uma evolução cultural em linhas paralelas, mesmo quando não existiu contacto directo;
·    3) A traduzibilidade é alta quando existe contacto entre duas línguas, mesmo que não sejam do mesmo tipo;
·    4) A traduzibilidade é alta quando existe apenas um tipo de informação a ser traduzida, e diminui com a existência de outros tipos de informação e/ou com o grau de complexidade da informação dentro do texto;
·  5) A traduzibilidade é alta quando a diferenciação sistêmica intrínseca (dialectal, registo, estilística) produz valores semelhantes.

Os universais culturais recorrentes das condições de traduzibilidade são; a intromissão modelar, e a simplificação, explicitação ou maior grau de sofisticação decorrentes da posição relativa entre sistemas, ou seja, se o sistema for mais desenvolvido ao passar para outro sistema menos desenvolvido poderá ser compactado, ou até perder informação. Por outro lado, se a mensagem a transmitir partir de um sistema primitivo para um outro complexo, a mensagem tende a ser também mais complexa.

As normas fundamentais que governam a “equivalência” de entidades semióticas na tradução são; a Adequação
, quando a tradução estás mais próxima do texto de partida; e a Aceitabilidade quando está mais próxima do texto de chegada.






Bibliografia:

In: Cadernos de Tradução. Florianópolis: G. T. Tradução / UFSC, 1996.
LAGES, Susana Kampff. "A tarefa do tradutor" e o seu duplo: a Teoria da Linguagem de Walter Benjamin como Teoria da Traduzibilidade. Cadernos de Tradução, [S.l.], v. 1, n. 3, p. 63-88, jan. 1998. ISSN 2175-7968. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/5378/4924>. Acesso em: Out. 2014. doi:http://dx.doi.org/10.5007/5378.

LAL,Telma & GRILO, João. In: Blogue de apoio à disciplina Tradução para os Média da licenciatura em Tradução da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Acesso em: nov. 2015.




© Helena Remina Richlin

A Relevância da Tradução

Tal “esquecimento” torna tanto a tradução como seu agente-produtor (o(a) tradutor(a)) categorias marginalizadas em suas relações com outras áreas do conhecimento, assim como enfraquece sua contribuição para a  própria história de nossa sociedade, além de mostrar um estigma ainda contemporâneo: a Invisibilidade do(a) Tradutor(a), a Invisibilidade da Tradução.
No Brasil, ainda são poucos os estudos sobre o oitocentismo que revelam a importância da tradução e do(a) tradutor(a) como agentes de globalização cultural e intelectual; que mostram o papel da tradução em momentos históricos brasileiros; que revelam a compreensão de elementos formadores da cultura - literatura, imprensa, língua nacional, dentre outros  – graças ao ato tradutório; e que explicam o processo de apagamentos de fronteiras nacionais na globalização do espaço sociocultural e literário por meio da tradução no século XIX.


Eis a grande lacuna que os atuais estudos de tradução vêm tentando reverter.




In: SILVA-REIS, Dennis. A Relevância da Tradução no Oitocentos Brasileiro. Academia.Edu.
http//www.academia.edu/6535307/A_RELEVANCIA_DA_TRADUÇÃO_NO_OITOCENTOS_BRASILEIRO. Acesso em: Out. 2014.

© Helena Remina Richlin

Transportando a carga ...




De acordo com J. C. Catford, a tradução é a "substituição do material textual de uma língua pelo material textual equivalente em outra língua". [...] O que importa no transporte da carga não é quais vagões carregam quais cargas, nem a sequência em que os vagões estão dispostos, mas, sim que todos os volumes alcancem seu destino, o fundamental no processo de tradução é que todos os componentes significativos do original alcancem a língua alvo, de tal forma que possam ser usados pelos receptores. [...] Se compararmos o tradutor ao encarregado do transporte dessa carga, [..] sua função, [...] se restringe a garantir que a carga chegue intacta ao seu destino. Assim, o tradutor traduz, isto é, transporta a carga de significados, mas não deve interferir nela, não deve "interpretá-la".
Nesse sentido, os três princípios básicos que definem a boa tradução, sugeridos por Alexander Fraser Tytler, são:

1) a tradução deve reproduzir em sua totalidade a ideia do texto original;

2) o estilo da tradução deve ser o mesmo do original; e

3) a tradução deve ter toda a fluência e a naturalidade do texto original.





In: ARROJO, Rosemary. Oficina de Tradução: a teoria na prática. São Paulo, Editora Ática, 2000. Série Princípios.

© Helena Remina Richlin

A "Tarefa" de traduzir ...

  
 "A Tarefa de traduzir, segundo Walter Benjamin, é infinita: no sentido de que o abandono de si é infinito, no sentido de que nunca se atinge o Eu originário, o texto original, que sustentaria os demais eus e as demais traduções. Não existe uma tradução per-feita, ela permanece sempre uma estrutura da tradução, uma re-flexão, um essai."



Fonte: Cadernos de Tradução - UFSC: Florianópolis, G.T. Tradução, Nº 3, 1998.
LAGES, Susana Kampff. "A tarefa do tradutor" e o seu duplo: a Teoria da Linguagem de Walter Benjamin como Teoria da Traduzibilidade. Cadernos de Tradução, [S.l.], v. 1, n. 3, p. 63-88, jan. 1998. ISSN 2175-7968. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/5378/4924>. Acesso em: Out. 2014. doi:http://dx.doi.org/10.5007/5378.



Uma tradução ...
 "... uma tradução já não é mais o texto original ... e não chega ainda a ser um novo texto, pois ainda se vincula de alguma forma, ao texto a partir do qual foi criada ..."

(Santo Agostinho)





Cada texto é único!!!

"Cada texto é único e, simultaneamente, é a tradução de outro texto. Nenhum texto é inteiramente original porque a linguagem mesma, em sua essência, é uma tradução: primeiro, do mundo não-verbal e, depois, porque cada símbolo e cada frase, é a tradução de outro símbolo e de outra frase. Contudo, esse raciocínio pode inverter-se sem perder a validez: todos os textos são originais, porque cada tradução é diferente. Cada tradução é, até certo ponto, uma invenção, e assim constitui um texto único." (Otávio Paz - 1970)



In: CADERNOS DE TRADUÇÃO. Florianópolis: UFSC / G. T. Tradução, Nº 3, 1996

© Helena Remina Richlin

10 de out. de 2014

Manuscritos - alguns exemplos ...


Seguem alguns exemplos manuscritos, seguidos, respectivamente da transcrição e da tradução correspondente a cada trecho destacado das mais diversas fontes, apenas a titulo de exemplo das mais diferentes grafias que se encontra nos documentos de outrora, para que possam servir de "guia" no momento em que se pretende identificar o conteúdo que se descortina aos olhos:










TRANSCRIÇÃO:
Osterfingen









TRANSCRIÇÃO:
Kantons Schaffhausen

TRADUÇÃO:
Cantão de Schaffhausen
(impresso)




TRANSCRIÇÃO:
denominado Prinzenstrasse

TRADUÇÃO:
denominado Rua do Príncipe



Fonte: os manuscritos/impressos compartilhados acima, foram extraídos de documentos distintos, que fazem parte do acervo pessoal.


***

Quando estiver na dúvida com relação à grafia de determinada letra, procure por outras palavras, no mesmo documento, que tenham a letra que deixou você na dúvida (no caso da imagem acima, eu precisava saber se na primeira palavra, da esquerda para a direita, era um "s" ou se era um "h"!) e compare todas elas!




Franz Jacober e Maria Sacherer aparecem registrados na mesma página do livro de registros, não tem relação entre si, apenas os escolhi para mostrar a diferença entre as grafias. São registros feitos por dois párocos distintos e mostram a escrita de cada um!!


















































Para aqueles que sempre perguntam: COMO se consegue "decifrar" um manuscrito...




Basta tentar entender "cada letra", "desmontar & remontar" o quebra-cabeças (rsrs)
e descobrir o que faz sentido...















1 palavra impressa foi riscada




Ajudante de carpinteiro


Ajudante de sapateiro





















































Cada documento com sua particularidade...







Na imagem abaixo, dá pra ver claramente
dois tipos de "S" utilizados nos manuscritos
(cada um tem sua regra específica de uso!)





Mais um exemplo de registro disponível nos sites de genealogia
e/ou das Instituições Religiosas que são as detentoras deste tipo de registro!







Dos tempos em que a palavra de uma pessoa
era empenhada e valia pra alguma coisa!!!




Neste trecho de carta fica claro que, em determinada época, os registros genealógicos das famílias
eram feitos pelos Párocos, nos chamados "Stammbücher" que as famílias lhes entregavam
por determinado tempo, para que estes Párocos pudessem copiar as
informações disponíveis nos livros de registro das comunidades!!!



Cartas são ricas fontes de informação a respeito
do dia a dia dos moradores, dos viajantes, dos familiares, ...
das amizades que se faz ao longo do caminho ... relatos do dia a dia...






Algumas vezes, ao primeiro olhar, parece que as palavras dos manuscritos foram escritas de tal forma, que elas parecem estar todas grudadas umas às outras , mas olhando novamente, é possível ver que há sim um espaço minúsculo (veja os traços vermelhos da imagem), quase imperceptível, entre elas! ... e mesmo que pareça, NÃO é uma palavra só!! Basta "desgrudar" uma da outra, que o texto passa a fazer sentido...



Uma forma utilizada no momento de encerrar a carta que será enviada para alguém....



A imagem do manuscrito que se segue, demonstra a preocupação em relação ao efetivo recebimento das correspondências, em uma época que não se tinha redes sociais, e a correspondência enviada podia levar meses para chegar ao destinatário!!!





Mais um exemplo de que os periódicos estrangeiros
despertavam o interesse dos (e)imigrantes ...















Mais uma da série assinaturas..., em que a pessoa que vai assinar determinado documento declara não saber escrever, por isso tem sua assinatura representada por xxx ao final do documento!






Mais uma da série assinaturas ..., quase sempre ao final do registro manuscrito..., desta vez para diferenciar entre os que assinam de fato e os que "desenham suas assinaturas"/ou as tem representadas ali em seu nome por não saberem escrever, nem mesmo assinar..., algo bem comum entre 1600 & 1700!





Fonte: os manuscritos compartilhados acima, foram extraídos de documentos distintos, que recebi por meio eletrônico para realizar a respectiva transcrição.



A página da imagem a baixo é mais um exemplo de página espelhada!
Aqui fica fácil reconhecer, que é o espelho do que foi escrito na página anterior,
já que este lado da folha, a princípio, era para ficar "em branco" ...
como não há texto sobre ela, fica mais claro para visualizar.




... o que exige atenção redobrada para não se confundir, ou,
em alguns casos, conseguir ler!, aquilo que aparece no papel!
A tinta pode tanto produzir a escrita espelhada,
quanto fazer um furo no papel, o que às vezes
nos impedirá saber o que ali estava escrito!




A seguir, mais um exemplo de manuscrito que encontramos entre os registros
produzidos em 1800 e que podem conter imperfeiçoes ('buracos")
provocadas pela corrosão do papel e/ou sofrer a interferência da
"escrita espelhada" daquilo que se encontra no verso da página ...



Transcrição do trecho da imagem do registro da IECLB
Wilhelm Carl ehel. Sohn des [Wilhelm (?)] Petri aus [Schwerin (?)]
 Preussen u. dessen Ehefrau Wilhelmine, geborene Schmidt. 
Wurde geboren am dreiundzwanzigsten (23.) Februar 
Achtzehnhundertachtundsiebzig (1878)
 und getauft am siebenten (7.) April dito anno.
 Zeugen: 1. Wilhelm Weirich; 2. Carl Schmidt; 3. Caroline Weirich.


Tradução do trecho da imagem do registro da IECLB
Wilhelm Carl, filho legítimo de [Wilhelm(?) ilegível] Petri de [Schwerin(?) ilegível],
 Prússia e de sua esposa Wilhelmine, nascida Schmidt. 
Nasceu em vinte e três (23) de fevereiro de 
mil oitocentos e setenta e oito (1878) 
e foi batizado em sete (7) de abril do dito ano. 
Testemunhas: 1. Wilhelm Weirich; 2. Carl Schmidt; 3. Caroline Weirich.



*** ***



TRANSCRIÇÃO:

Die Schrift
ist die Trägerin und Bewahrerin
alles menschlichen Wissens und
darum die Mutter der höheren
Bildung und schönen Künste.

TRADUÇÃO:

A Grafia
é a portadora e preservadora
de todo o conhecimento humano e,
portanto, a mãe do ensino
elevado e das artes plásticas.

Fonte: 


***  ***  ***


TRANSCRIÇÃO:
Kurt Görig (ou Goerig - caso não se queira usar o trema)






 TRANSCRIÇÃO:
Bin ich praktisch veranlagt?
Habe ich aussicht Erfindungen zu machen?

TRADUÇÃO:
Eu sou uma pessoa prática?
Há alguma previsão de que eu consiga fazer invenções?





TRANSCRIÇÃO:
Über Land und Meer
ist schon oft der
Wunsch meine Hand-
schrift beurtheilt zu

TRADUÇÃO:
Por terra e mar
já surgiu muitas vezes
o desejo de avaliar
minha letra




TRANSCRIÇÃO:
Sie um Ihrer nach-
kummer sowohl wie
auch die Handschrift
Gemahlen(?) zu
(?) für Ihren Freund
bestens Danken?

TRADUÇÃO:
Você poderia dizer muito obrigado
para o seu amigo por ele realizar o pedido(?), 
tanto quanto por ele desenhar o manuscrito
para mim?




 TRANSCRIÇÃO:
Das ist die Welt,
sie steigt g'fällt.
Sie rollt wie Glas
Wie leicht bricht das.

TRADUÇÃO:
Este é o mundo,
Ele sobe como se caísse.
Rola como vidro
Quão fácil isso quebra.





TRANSCRIÇÃO:
Erlaube mir
Sie Höflichst
Beurteilung
Schrift zu bitten.

TRADUÇÃO:
Me atrevo
pedir-lhe encarecidamente
avaliar
a letra.






TRANSCRIÇÃO:
Dann meinen herzlichen
Dank für dein liebes Briefchen entgegen. Das
selbe hat mich sehr sehr gefreut, brachte es uns
doch die gute Nachricht, dass Du fast wieder

TRADUÇÃO:
Então, meus sinceros
agradecimentos pela tua querida cartinha. Ela
me deixou muito muito feliz, pois ela
nos trouxe a boa notícia, de que você quase




 TRANSCRIÇÃO:
Bitte von Ihnen
die Beurteilung meines
Charakters(?), durch
meiner Handschrift

TRADUÇÃO:
Peço-lhe que avalie
o meu caráter(?), por meio
da minha letra





TRANSCRIÇÃO:
alfabetische Schriftprobe
[von] mir und sende(?) dieselbe
[an] Graphologen zu übergeben

TRADUÇÃO:
amostra da minha 
letra manuscrita
para passá-la aos grafologistas





Fonte: Os manuscritos acima foram publicados no periódico UEBER LAND UND MEER: Deutsche Illustrierte Zeitung. Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstallt, 1902. Volume 87, Nº 1 e seguintes.



TRANSCRIÇÃO:
Georg Heinrich

TRADUÇÃO:
George Henrique
(embora o mais comum seja não traduzir)




TRANSCRIÇÃO:
Johann Franz

TRADUÇÃO:
João Francisco
(embora o mais comum seja não traduzir)



TRANSCRIÇÃO:
Gottlieb Johann




TRANSCRIÇÃO:
Auguste Hedwig





TRANSCRIÇÃO:
Emil Heinrich




TRANSCRIÇÃO:
Albert Emil




TRANSCRIÇÃO:
Carl Friedrich




TRANSCRIÇÃO:
Robert Hermann Wilhelm




TRANSCRIÇÃO:
Anna Elisabeth




TRANSCRIÇÃO:
Christoph




TRANSCRIÇÃO:
ehelicher Sohn

TRADUÇÃO:
filho legítimo




TRANSCRIÇÃO:
Heinrich






TRANSCRIÇÃO:
Johann Peter


Fonte: Breves extrações de documentos diversos publicados na Internet.

(Transcrição e tradução: © Helena Remina Richlin)